Por: Roseane Nabas
A Terapia Nutricional Enteral (TNE) é importante para recuperação e/ou manutenção do estado nutricional do paciente. Ela auxilia na melhora dos resultados clínicos, aumento da imunidade, diminuição do estresse fisiológico, tempo de internação e os gastos hospitalares.
É indicada para pacientes que não têm condições de se alimentar totalmente ou parcialmente por via oral, mas que apresentam o trato gastrintestinal funcionante, podendo ser administrada através da nutrição enteral industrializada ou caseira.
Dietas industrializadas, artesanais ou caseiras?
As dietas não industrializadas, artesanais ou caseiras consistem em uma fórmula manipulada a partir de alimentos in natura cozidos, liquidificados e coados (arroz, óleo vegetal, leite, ovo, caldo de carne, farinhas, por exemplo).
Ela deve ser prescrita por um profissional da saúde capacitado, que deverá determinar corretamente a combinação desses alimentos de modo que sua composição seja completa e equilibrada do ponto de vista nutricional e adequada à condição clínica do paciente.
No entanto, muitas vezes a dieta caseira não é capaz de atingir as metas nutricionais do paciente, sendo necessário a utilização de algum complemento alimentar industrializado como forma de agregar nutrientes à preparação (maltodextrina, albumina, vitaminas e minerais, por exemplo).
A RDC n° 63/2000 (ANVISA) estabelece os requisitos mínimos exigidos para a TNE no Brasil, objetivando garantir maior segurança e qualidade nutricional em sua utilização. Com isso, o uso da dieta enteral artesanal vem, ao longo dos anos, perdendo mercado para a dieta industrializada.
Porém, ainda existe a concepção de que as dietas artesanais são mais adequadas e de menor custo que as fórmulas enterais industrializadas, principalmente quando se trata de pacientes em atenção domiciliar.
Entenda sobre a dieta enteral industrializada
A nutrição enteral industrializada pode ser classificada em sistema aberto e sistema fechado. No sistema aberto, os nutrientes industrializados podem se apresentar na forma de pó ou líquido e precisam ser manipulados, dosados e envasados de acordo com a prescrição dietética.
Já o sistema fechado é constituído por nutrientes e volumes padronizados, apresentado em embalagem estéril, hermeticamente fechada, pronta para ser administrada sem nenhum tipo de contato com ar ambiente ou manipulador. Sendo assim, o sistema aberto apresenta um menor custo, uma vez que não são considerados custos com os profissionais manipuladores, insumos, área física e equipamentos.
Saiba mais sobre a dieta enteral artesanal
As dietas enterais artesanais exigem um controle rígido das condições higiênicas no preparo, acondicionamento e administração dos alimentos, estando sujeitas a um maior risco de contaminação microbiológica, uma vez que os alimentos utilizados para suas preparações apresentam um pH ligeiramente ácido ou neutro, possibilitando o crescimento de bactérias e contribuindo para um risco maior de contaminação em virtude da própria manipulação.
Além disso, a falta de padronização dos procedimentos, da quantidade dos ingredientes e do tempo de cocção podem tornar a composição nutricional do produto final variável, tornando difícil a obtenção da densidade calórica, proteica e distribuição de macro e micronutrientes adequadas de acordo com as necessidades do paciente.
Durante o processamento das fórmulas ocorrem grandes perdas de nutrientes. Estudos demonstram que em dietas enterais artesanais preparadas no domicílio, com alimentos in natura, os valores de macronutrientes e energia podem corresponder a menos de 50% dos valores prescritos, resultando em uma administração imprecisa dos nutrientes. Isso torna o paciente vulnerável quanto à segurança alimentar e agrava seu estado nutricional, podendo até complicar sua condição clínica.
Outro fator importante é que não há controle de osmolalidade e viscosidade no preparo de dietas artesanais e o desequilíbrio desses dois fatores podem contribuir com complicações no sistema digestivo do paciente.
A diferença entre a osmolalidade e a viscosidade
A osmolalidade refere-se ao número de partículas osmoticamente ativas de uma solução e este fator é de fundamental importância na aceitação fisiológica pelos indivíduos submetidos à nutrição enteral, além de estar relacionada com a via e o tipo de administração da dieta.
Já a viscosidade é a medida da resistência ao movimento de um fluido e influencia na velocidade de aplicação das dietas enterais. Os nutrientes relacionados com a viscosidade da dieta são, principalmente, carboidratos e fibras. Ou seja, quanto maior ou menor a quantidade desses nutrientes, a dieta será mais ou menos viscosa.
Aposte em dietas enteral industrializadas
Observamos, então, que a nutrição enteral é importante para manter ou recuperar o estado nutricional do paciente e, quando avaliamos o custo-benefício, as dietas industrializadas se mostram como melhor opção, principalmente por apresentarem uma composição nutricional mais completa, dispensando a necessidade de utilização de um complemento para atingimento das metas nutricionais, e menor necessidade de manipulação, reduzindo o risco de contaminação microbiológica e possíveis desfechos negativos ao paciente.
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