Hipocloridria: como evitar suas complicações através da nutrição na terceira idade

Publicado em 01 de outubro de 2021

Equipe Nutrir

Por: Raissa Astolpho

Saiba o que é hipocloridria, seus sintomas e como evitar o seu surgimento através de uma boa nutrição na terceira idade

Você já ouviu falar sobre hipocloridria? Aquela sensação de queimação e mal estar no estômago pode ser definida pelo termo. Ela é caracterizada pela diminuição da produção de ácido clorídrico, fazendo com que o pH estomacal fique mais alto e leve ao aparecimento de alguns sintomas.

É comum surgir na terceira idade, mas pode estar presente em todas as fases da vida. Mesmo assim, pode ser evitada através da nutrição adequada.

Continue aqui e entenda mais sobre este assunto!

O corpo e o organismo no processo de envelhecimento 

A senescência, ou seja, o processo natural do envelhecimento, submete o organismo a diversas alterações anatômicas, funcionais, metabólicas e psicológicas, onde todas elas comprometem a alimentação e o organismo como um todo. 

Perda de peso involuntária, redução do apetite e caquexia (perda de gordura e musculatura esquelética) são comuns na população geriátrica, sendo de extrema importância o conhecimento dos fatores associados ao comprometimento do estado nutricional do idoso. 

Um dos fatores relacionados à redução do consumo alimentar nessa população é a falta de motivação para se alimentar, sendo que as principais causas relacionadas a esta desmotivação são: fisiopatológicas, sociais ou psicológicas ou, ainda, a combinação entre elas. 

Fatores físicos como edentulismo (falta total ou parcial dos dentes), uso de próteses mal adaptadas, mudanças no paladar e/ou olfato, influenciam a escolha da alimentação tanto em qualidade quanto em quantidade. Medicamentos relacionados com alterações no paladar (como por exemplo os anti-hipertensivos) e má absorção intestinal, bem como infecções crônicas ou agudas e hipermetabolismo (aumento do gasto energético e da necessidade calórica aumentada), comprometem negativamente o estado nutricional do idoso.

Cabe ainda lembrar que as mudanças fisiológicas, próprias do envelhecimento, ocorrem principalmente nos sistemas: digestório, endócrino, imune, renal, nervoso, osteoarticular e cardiovascular, sendo que, dentre esses, as alterações do sistema digestório (relacionadas à parte anatômica, de motilidade e de função secretora) interferem diretamente no consumo alimentar, podendo também ser uma das causas da má nutrição em idosos.

Salienta-se que nessa população há a diminuição natural dos botões gustativos (fornecem o sabor dos alimentos), o que também altera a percepção do paladar, podendo afetar a alimentação. Já dentre as modificações ocorridas no estômago durante o envelhecimento, a atrofia gástrica e a consequente diminuição da capacidade de secretar ácido gástrico (hipocloridria) são as mais comuns, ocasionando uma diminuição de absorção de diversos nutrientes. Vale ressaltar que esvaziamento gástrico se torna mais demorado, resultando em maior tempo de saciedade pós-prandial e menor sensação de fome pelo idoso, o que também compromete a ingestão alimentar, gerando a perda de peso.

Hipocloridria: o que é e quais os sintomas

A hipocloridria pode ser definida como a diminuição da produção de ácido clorídrico (HCl) no estômago, o que faz com que o pH estomacal aumente, gerando o aparecimento de alguns sintomas, como: 

  • Náuseas;
  • Distensão abdominal;
  • Eructação (arrotos);
  • Diarreia;
  • Má absorção (presença de comida não digerida nas fezes);
  • Gases;
  • Anemia ferropriva (por deficiência de ferro) ou megaloblástica (deficiência de vitamina B12);
  • Redução do muco;
  • Deficiências nutricionais. 

As possíveis causas da hipocloridria na população idosa, estão relacionadas à gastrite crônica pelo uso frequente de antiácidos ou medicações para refluxo gastro esofágico, cirurgias no estômago ou presença da Helicobacter pylori, um tipo de bactéria mais relacionada a gastrites e úlceras pépticas, cuja infecção é muito comum e aumenta conforme a idade.

Inibidores e antiácidos: atuação perante a hipocloridria

Os inibidores de Bomba de Prótons, mais conhecidos como lansoprazol, omeprazol, rabeprazol e pantoprazol, atuam na inibição da produção de ácido clorídrico, aumentando o pH gástrico, interferindo na absorção de todas as vitaminas e minerais. Já os antiácidos (sais de alumínio e magnésio) atuam na redução da absorção dos nutrientes ou aumentando a excreção urinária de alguns outros, como o cálcio por exemplo. Dentre eles, os mais afetados quanto à absorção, são:

– Ácido Fólico (Vitamina B9)

– Cálcio

– Betacaroteno

– Cromo

– Ferro

– Zinco

– Vitamina C

– Vitamina B12 (Cobalamina)

Cuidado! Medicamentos inibidores de Bomba de Prótons, quando usados de forma contínua, provocam um desafio funcional ao sistema gastrointestinal, que depende da produção e presença natural do ácido clorídrico no estômago para ionizar os micronutrientes e estes serem absorvidos pelo intestino. 

A hipocloridria impede a absorção e a atividade de todos os micronutrientes. Além disso, a digestão proteica e o combate a fungos e bactérias ruins dependem de um pH ácido adequado no estômago, sendo a hipocloridria responsável por sérias consequências como disbiose intestinal (por destruir as bactérias saudáveis) e o aumento de processos inflamatórios devido à dificuldade de digestão e absorção de proteína. Neste cenário, o pH ideal para a absorção de micronutrientes será alterado.

Invista na nutrição adequada para evitar a hipocloridria

Diante disso, é necessário que a nutrição atue diretamente minimizando os sinais e sintomas ocasionados pela hipocloridria, como, por exemplo, se utilizando de:

– Espinheira-santa: auxilia na prevenção e tratamento da úlcera gástrica e duodenal e na esofagite de refluxo e hérnia de hiato. Suas principais funções são:

  1. Ação analgésica, anti-inflamatória e antiulcerativa;
  2. Protetora celular;
  3. Antissecretória (semelhante ao omeprazol);
  4. Aumento da produção de muco;
  5. Protege do estresse causado por medicamentos.

Contra indicados em casos de:

  1. Câncer estrogênico-dependente;
  2. Mulheres em tratamento para engravidar;
  3. Gestantes e lactantes (redução na produção do leite materno);
  4. Hipersensibilidade.

– Pimenta Chilli: a capsaicina é um composto químico e o componente ativo das pimentas conhecidas internacionalmente como pimentas chilli, que possuem propriedades benéficas gástricas. Suas principais funções são:

  1. Efeito antissecretório (previne a formação de úlceras);
  2. Estimula a secreção de muco e secreção alcalina;
  3. Anti-inflamatório;
  4. Gastroprotetor.

– Camomila: atua no trato gastrointestinal com as seguintes funções:

  1. Agindo em desordens gastrointestinais;
  2. Melhorando a flatulência, diarreia, espasmos, colite, gastrite e hemorróidas;
  3. Ação anti-inflamatória;
  4. Ação antiespasmódica (combate espasmos, contrações musculares esofagianas, por exemplo).

– Probióticos e Fibras Prebióticas: atuam em conjunto no combate à disbiose, contribuindo para uma microbiota mais saudável e equilibrada.

Conheça o histórico dos medicamentos utilizados pelo seu paciente

Portanto, é fundamental conhecer o histórico de medicamentos utilizados com maior frequência e os que ele está utilizando neste momento. Além de repor a microbiota saudável, é necessário manter uma suplementação dos micronutrientes quando indicado, associado a uma alimentação saudável.

 

Referências Bibliográficas:

BORREGO, et. al. Causas da má nutrição, sarcopenia e fragilidade em idosos. Rev. Assoc. Bras. Nutr.: Vol.4, N.5, jan-jun 2012. 

CARREIRO, Denise Madi. Suplementação Nutricional na prática clínica. 1ª Edição – São Paulo, SP, 2015.

CONRADO, Bruna Áfata et.al. Disbiose Intestinal em idosos e aplicabilidade dos probióticos e prebióticos. Caderno Unifoa. Volta Redonda, n.36. p. 71-78. Abr. 2018.

LIMA, Lhma et al. Auto-percepção oral e seleção de alimentos por idosos usuários de próteses totais. Rev. Fac. Odontol. Araraquara. 2007; 36(2): 131-136.

TS, Roberto; FC, Bana. Mudanças fisiológicas do sistema digestório na terceira idade. In: Magnoni D, Cukier C, Oliveira PA (Org.). Nutrição na terceira idade. São Paulo: Sarvier, 2010.